domingo, 1 de fevereiro de 2009

Reprogramação celular

Grupos do Rio de Janeiro e de Ribeirão Preto reprogramam células humanas adultas e as fazem se comportar como células-tronco embrionárias

Linhagem de célula-tronco com pluripotência induzida: Brasil é o quinto país a dominar a técnica.

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto Nacional do Câncer (Inca) conseguiram reprogramar células adultas humanas (e de camundongos) e as fizeram se comportar como se fossem células-tronco embrionárias, revelou no sábado (24/01) reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.

É a primeira vez que um grupo de pesquisa nacional produz as chamadas células-tronco pluripotentes induzidas (iPS, na sigla em inglês), em tese capazes, como as células-tronco embrionárias, de gerar qualquer tipo de célula e de tecido de um organismo.

Na terça-feira (27), um grupo do Centro de Terapia Celular (CTC) do Hemocentro de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), anunciou que também havia obtido células-tronco pluripotentes induzidas a partir de fibroblastos humanos, um tipo de célula da pele. O CTC é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiados pela FAPESP.

O Brasil é o quinto país a dominar a técnica de produzir iPS, ao lado dos Estados Unidos, China, Alemanha e Japão.

O trabalho no Rio de Janeiro foi coordenado pelo neurocientista Stevens Rehen da UFRJ e pelo biomédico Martin Bonamino do Inca, que mudaram a programação de uma linhagem de células adultas humanas obtidas de rins.

Os cientistas esperam que o método possa estimular os estudos com células-tronco para o tratamento de doenças. "O domínio da técnica de reprogramação celular garante ao país a possibilidade imediata de criação de modelos inéditos para o estudo de doenças como Parkinson, esquizofrenia, cardiopatias, além de doenças genéticas como Síndrome de Down, distrofia muscular", disse Rehen.

A grande vantagem do novo método, criado no Japão e que foi eleito pela revista científica Science como o maior feito do ano de 2008, é não necessitar de embriões para a produção de células-tronco pluripotentes, entrave ético que provoca acalorados debates nos meios científico e religioso.

A reprogramação foi obtida por meio da inserção de quatro genes (Oct-3/4, Sox-2, Klf-4 e c-Myc) em retrovírus, que, em seguida, foram introduzidos nas células adultas. É a ação dos genes que faz as células adultas retrocederem a um estágio indiferenciado igual ao das das células-tronco embrionárias.

A receita usada para obter as células-tronco com pluripotência induzida pode ser obtida no site dos pesquisadores cariocas. "Queremos estimular o uso da técnica por outros laboratórios do país", disse Rehen. Essa linha de pesquisa não tem a pretensão de substituir os estudos com células-tronco embrionárias. É uma uma abordagem complementar, que pode diminuir a necessidade do emprego na pesquisa científica de embriões descartadados por clínicas de fertilização in vitro.

Trabalhando com Elisa Maria de Souza Russo Carbolante, a pesquisadora Virgínia Picanço e Castro, do CTC de Ribeirão Preto, usou uma técnica bastante semelhante à empregada por seus colegas cariocas para produzir as iPS.

A reprogramação também foi obtida pela inserção de retrovírus que carregavam genes - nesse caso, seis genes, e não quatro, como no trabalho da UFRJ/Inca - com as instruções necessárias para que as células adultas retrocedessem a um estágio semelhante aos das células-tronco embrionárias. "Estamos reproduzindo agora essas células em laboratório para que tenhamos material para muitos estudos", diz Virgínia.

Fonte: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/index.php?art=5323&bd=2&pg=1&lg=. Acesso em: 27 jan. 2009. A edição de Pesquisa FAPESP de fevereiro traz reportagem completa sobre o trabalho dos pesquisadores da UFRJ e do Inca.

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