Fauna antártica do fundo do mar tem recursos para se manter ativa mesmo no inverno
No inverno antártico o sol espia acima do horizonte só por umas três horas a cada dia, a temperatura fica por volta dos 30º Celsius negativos, o mar congela e se torna parte do continente que abriga o polo Sul do planeta.
Os organismos que vivem embaixo d’água não têm como chegar à superfície e as profundezas do oceano se tornam ainda mais sombrias do que de costume. Há dez anos o oceanógrafo Paulo Sumida, da Universidade de São Paulo (USP), investiga como a fauna do fundo do mar na península Antártica Ocidental – a ponta do continente mais próxima da América do Sul – sobrevive até a volta do verão.
Estudiosos dessa região espalhados pelo mundo todo já tinham averiguado a ecologia de organismos que habitam o continente e as águas que o circundam. “O plâncton, que vive na coluna d’água, tem muitas estratégias para lidar com a falta de alimento”, conta Sumida.
Pepinos-do-mar sobrevivem mesmo no inverno antártico
Uma delas é assumir a forma de cistos dormentes à espera de tempos mais propícios para encontrar alimento e se reproduzir. Outros organismos em suspensão na água, como o krill (crustáceos que se parecem com camarões), se alimentam das algas que encontram aderidas na face submersa do gelo.
Mas como ficam os organismos de fundo, conhecidos como bentos, que dependem do alimento que cai da superfície? Para ver o que acontece a profundidades entre 500 e 640 metros, o grupo explorou o fundo do mar de Bellingshausen.
Os resultados da parte analisada por Sumida e por Angelo Bernardino, na época seu aluno de mestrado, no Instituto Oceanográfico da USP, publicados em novembro de 2008 na revista Deep-Sea Research II, mostram que ouriços-do-mar arroxeados, delicados lírios-do-mar – parentes das estrelas-do-mar – que nadam agitando os finos tentáculos, pepinos-do-mar alaranjados e poliquetas – animais semelhantes a minhocas espinhudas com até 25 centímetros de comprimento – têm uma despensa à sua disposição durante o inverno.
A descoberta é resultado do projeto Food for Benthos on the Antarctic Continental Shelf (Foodbancs), coordenado por Craig Smith, da Universidade do Havaí, e David DeMaster, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, de que o oceanógrafo da USP faz parte.
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